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A arte que nasceu nos cadernos da infância e ganhou as ruas de Olinda agora vai alcançar o Brasil. Morador de Sapucaia, o grafiteiro Carlos André foi selecionado para representar Pernambuco na Caravana do Silvinho, projeto do SBT que homenageia o apresentador Silvio Santos com obras criadas por artistas de todo o país.
Com o projeto “Oxente, Silvio”, Carlos vai dar vida a uma escultura de 1,40 metro de altura, levando para o boneco elementos típicos da cultura olindense. Cores vibrantes e símbolos do cotidiano estarão presentes na obra, que será finalizada nesta segunda quinzena julho, em um dos ateliês organizados pela Caravana.
A iniciativa reúne 45 artistas e está sendo realizada em um ateliê dentro do SBT e também em oficinas no Museu da Imaginação, em São Paulo.
Mais do que uma homenagem, a participação na caravana representa para Carlos a chance de mostrar ao Brasil um pouco da sua trajetória — feita de talento, identidade e afeto pela cidade onde nasceu, cresceu e criou raízes na arte.
De Sapucaia, em Olinda, para o Brasil
O contato de Carlos André com a arte começou ainda na infância, com desenhos que logo chamaram a atenção da família. “Esse amor pelo grafite começou na infância. Eu desenhava, como muitas crianças fazem, mas meus pais perceberam que havia algo a mais. Foi aí que veio o incentivo, o apoio”, relembrou.
Com o incentivo em casa, ele passou a se dedicar mais. “Depois eu fiz uns cursos. Já desenhava alguns desenhos da TV, mas para melhorar, para me aperfeiçoar, precisei realmente fazer um curso, participar de algumas oficinas, estudar um pouco aqueles profissionais que começaram primeiro do que eu. Observava, pedia ajuda e botava na prática.”

O primeiro trabalho marcante começou cedo: “Foi em camisa. Aquele negócio de feira de conhecimento. Eu só fazia desenhar, trabalhava com um colega meu. Nesse dia disseram: ‘Tu não vai só desenhar no papel, tu vai fazer a camisa’. Bateu um nervosismo, mas aconteceu. E daí percebi que realmente tinha que colocar esse amor para fora”, explicou Carlos.
A partir desse momento, a arte de Carlos começou a ganhar novas superfícies. Depois das camisas vieram os muros. Como ele nos disse, “o grafite não se limita. Ele não se limita só a telas, camisas. Tudo que for superfície que o grafite puder incorporar, ele incorpora.”

Nascido e criado em Olinda, no bairro de Sapucaia, Carlos carrega sua origem com orgulho. “Sou de Olinda, no caso, daqui do bairro de Sapucaia. Vivo aqui a vida toda.”
Ele lembra que chegou a trabalhar com carteira assinada, mas percebeu que seu caminho estava mesmo na arte. “Trabalhava CLT, mas quando vi que estava sendo procurado nos finais de semana, percebi que não dava mais para trabalhar em empresa e para mim mesmo ao mesmo tempo. Estava conseguindo me manter, aí abri meu ateliê”, disse.
Quando questionado o que mais o inspirava e se era levando pela cultura de Olinda, ele refletiu que a identidade cultural da cidade está presente em tudo que cria.
“Muitas pessoas veem no nosso trabalho a questão da nossa cultura, do nosso cotidiano. Eu acredito que o nosso dia a dia fala muito. Minha maior inspiração é a minha terra. Aquela frase, né? Do orgulho de ser nordestino: ‘Pernambuco meu país’. Eu levo isso muito a sério.”

A Caravana do Silvinho e a presença de Olinda no cenário nacional
Foi por acaso que Carlos André ficou sabendo da seleção para a Caravana do Silvinho. “Eu só fiquei sabendo no dia que realmente foi lançada a chamada. Uma colega minha da igreja viu e mandou direto para o meu direct do Instagram. Ela disse: dá uma olhada”, lembra.
O convite despertou sua curiosidade, e, ao conhecer os detalhes do projeto, ele não teve dúvidas de que queria participar. “Vi que realmente seria algo de grande responsabilidade. É a nível nacional, uma grande homenagem a Silvio Santos.”
O projeto previa a personalização de uma escultura do boneco Silvinho. Para a inscrição, os artistas precisavam apresentar o desenho completo da proposta: frente, verso e laterais, como forma de mostrar, desde o início, a visão artística sobre a homenagem ao apresentador.
“A gente já tinha que mandar como ia ficar a frente, lado esquerdo, lado direito, as costas, tudo. Porque eles querem ter a visão do artista, como ele está homenageando o Silvio Santos.”
Carlos criou o projeto “Oxente, Silvio”, em que o boneco é revestido por elementos típicos da cultura nordestina e, especialmente, de Olinda. “Inseri nossa cultura. O Silvinho vai estar vestido com nossos elementos, com a nossa cultura, do nosso Nordeste.”
Ao todo, 400 artistas de todo o país se inscreveram, mas apenas 45 foram selecionados para compor a exposição. Carlos André foi o único representante de Pernambuco entre os escolhidos. “Dos 400, foi passada uma peneira por outra curadoria, que escolheu 45. E do Nordeste, daqui de Pernambuco, meu trabalho foi selecionado.”
As esculturas serão pintadas nos espaços indicados pelo projeto, incluindo oficinas no Museu da Imaginação, em São Paulo. “Essa pintura vai ser feita lá no Museu da Imaginação”, confirma Carlos, já contando os dias para ver sua arte pronta e exposta ao público.
‘Oxente, Silvio’: arte, identidade e a força de onde se vem
A obra será feita aberta ao público, com transmissão pelas redes sociais da Caravana do Silvinho. Carlos já se organizou para concluir a pintura em até três dias, com o cuidado que acredita ser necessário para representar Olinda.
“Me programei para fazer entre dois a três dias, de forma suave, sem estresse, para realmente dar o capricho. Vai estar levando um texto que fala sobre a nossa cultura. Então tem que ter todo esse cuidado, todos esses detalhes.”
Ele vê a oportunidade como uma grande vitrine para além da arte. “Quero que, com esse trabalho, as pessoas conheçam a força da nossa cultura, do nosso Nordeste, de Pernambuco, da nossa Olinda. Essa obra vai levar a nossa essência, a força do Nordeste, da periferia, que não pode ser subestimada. Tem que acreditar no seu sonho. Um dia você tá riscando uma parede, achando que não vai chegar a lugar nenhum. No outro, tá participando de um projeto tão enriquecedor como a Caravana do Silvinho.”